Neste encontro com Shlomo Sand podemos entender com clareza o absurdo que é a tentativa de justificar o fato de que um grupo de cidadãos europeus haja decidido partir para um território que alegam ter-lhe sido entregue à perpetuidade por ninguém menos que o próprio Deus, e do qual teria sido expulso pelos romanos há mais de dois mil anos. Com a justificativa de que aquela é sua terra de pleno direito, apesar de terem estado distantes da mesma por todo este tempo, eles decidem submeter e expulsar dali os habitantes cujas gerações lá viviam há mais de um milênio.
Seria impossível que alguma pessoa de mente equilibrada e de bom caráter não considerasse tais propósitos uma verdadeira aberração. Ninguém em sã consciência poderia aceitar que Deus seja entendido como um grande corretor de imóveis que tem alguns clientes preferências em detrimento de outros.
Apesar do absurdo desta ideia, ela foi posta em prática e, pior de tudo, com a conivência e o benepácito da ONU, a qual naqueles tempos (como agora) era manipulada pelas grandes potências imperialistas que sempre a usam para favorecer seus próprios interesses mesquinhos e em seu próprio benefício.
Para dar sustentação a seu projeto de colonização da Palestina, os europeus organizadores do movimento sionista (quase todos ateus, ou não religiosos) apelaram para uma releitura da Bíblia e a transformaram de livro religioso em fonte de verdades históricas de validade eterna.
Além disso, imaginem que, para dar maior sustenção a suas teses de cunho religioso, os líderes sionistas (seculares e ateus) decidam até mesmo falsificar alguns dos conceitos presentes na Bíblia de modo a adaptá-los a seus interesses do momento.
Boa parte desta sórdida tramoia é revelada nesta conversa de Shlomo Sand. Aqui, além de desconstruir os mitos bíblicos que os sionistas encamparam e difundiram entre as comunidades judaicas pelo mundo afora, poderemos entender com mais clareza os motivos que os moviam (e movem) neste projeto colonialista.
Juntamente com os mitos da eternidade e excepcionalidade do povo judeu, de sua eterna luta por reconquistar o território de onde teriam sido expulsos há mais de dois mil anos, os sionistas precisavam (e hoje precisam muito mais) que o antissemitismo nunca deixasse de estar presente como uma constante ameaça a todos os judeus. Se, na prática, o antissemitismo como pensamento político público quase que desapareceu nos países ocidentais, para os sionistas seria mister encontrar maneiras de reativá-lo, de verdade ou ficticiamente.
As palavras com que Shlomo Sand conclui sua intervenção neste encontro são dignas de profundas reflexões. Diz Shlomo Sand: "Se, no passado, os antissemitas eram as pessoas que odiavam os judeus, hoje em dia, antissemitas são aqueles a quem os sionistas odeiam".
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