8/2/2013, MK Bhadrakumar*, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Obama e Netanyahu; próximo encontro? |
A decisão do presidente Barack Obama de ir a Israel em sua primeira visita oficial depois da posse é simultaneamente simbólica e muito substancial. É simbólica, no sentido de que destaca a centralidade do Oriente Médio na agenda da política externa dos EUA e assinala que é útil que os EUA levem Israel com eles.
Mas parece remota a probabilidade de que Obama tenha decidido fazer avançar consistentemente alguma solução para o problema dos palestinos. A visita a Israel – já se falou de 20 de março, como data provável – é necessária, em parte, pela possibilidade de Obama ter de continuar a negociar com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. As relações pessoais entre os dois não melhoraram.
Palestinos em Gaza vêem os túneis como sua única saída eficaz para o mundo. Foto: Eva Bartlett / IPS |
Entrementes, com o resultado das eleições parlamentares israelenses e o inesperado movimento na direção da esquerda pode oferecer alguma pequena esperança de que o governo de Israel comece a ver a luz da razão, da moderação e da flexibilidade, em vez de permanecer empacado no velho jogo de buscar dominar militarmente toda a região.
Infelizmente os reflexos israelenses ainda não dão qualquer sinal de genuíno interesse em repensar o quadro, como mostram os recentes ataques aéreos contra território sírio. O que se viu foi que o Hezbollah, o regime sírio e o Irã optaram por não retaliar, o que deixou Israel sem pretextos para disparar uma conflagração regional, exatamente quando as coisas parecem começar a encaminhar-se, em desenvolvimento promissor, na direção oposta aos planos israelenses.
Ataque aéreo de Israel contra a Síria |
Do modo como Israel vê as coisas, o enfraquecimento da Síria, quase na mesma escala da deterioração da situação no Iraque (somado aos tumultos no Egito) faria a balança estratégica pender a seu favor. Em termos ideais, Israel gostaria de ver a Síria desmembrada e o formidável exército sírio convertido em milícia de esfarrapados, mais ou menos como se viu acontecer na Líbia.
Dois principais ganhos concretos interessam a Israel na situação em curso, a saber: ganhar alguma profundidade estratégica por terra dentro da Síria, para ampliar sua área-tampão nas colinas do Golan; e, em segundo lugar, criar um pretexto para degradar a capacidade militar do Hezbollah.
Mas a questão chave a ser discutida durante a visita de Obama a Israel não será nenhuma dessas e, sim, as próximas negociações com o Irã. Obama levará algumas quinquilharias militares e econômicas atraentes para elevar o nível de conforto dos israelenses, incluindo, provavelmente, algum reforço extra para a “Cúpula de Ferro [orig. “Iron Dome”] e conta com controlar, assim, a reação negativa de Israel à sua política para o Irã.
Ahmadinejad na conferência de imprensa no Egito em 5/2/2013 |
Quanto a Teerã, continua respondendo com cautela à abertura que lhe fazem os norte-americanos, com cautela, mas com esperanças. A reação do presidente Mahmoud Ahmadinejad soma-se a esse quadro – Teerã espera por “mudanças positivas no comportamento dos EUA” e, se acontecerem, “estudaremos a situação com visão positiva”. Deliberadamente, Ahmadinejad deixou passar em tom discreto uma oportunidade de ouro de marcar um ponto retórico a seu favor e contra os EUA, durante sua muito divulgada visita ao Egito. Não há dúvidas de que Israel assiste muito atentamente a tudo isso.
Feitas todas as contas, o espectro que assombra Israel tem três faces.
- Uma, os sinais recentes de que a oposição síria encaminha-se para dialogar com o regime de Assad.
Irã e P5+1 Segunda, pode haver progresso na questão nuclear iraniana na próxima rodada de negociações entre o Irã e o chamado grupo P5+1 que acontecerá no Cazaquistão, dia 25 de fevereiro.
- Terceira, os EUA podem, sim, iniciar diálogo bilateral com o Irã – o que marcaria o início do processo de legitimação do Irã como potência regional e sua integração plena à comunidade internacional.
Todas essas derivas, especialmente a normalização das relações EUA-Irã, terão profundas consequências para o equilíbrio do poder no Oriente Médio e reescreverão as regras do jogo que vem sendo jogado na Região, há várias décadas.
Bem evidentemente, a missão de Obama é muitíssimo substancial. Seu objetivo mais firme é continuar a cercar Netanyahu, firmando elo após elo, para reduzir o espaço que lhe reste para continuar a agir como coadjuvante petulante, quando, no palco principal, se dão os primeiros passos de uma delicada diplomacia.
MK Bhadrakumar* foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online e o Blog Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
Um comentário:
Mais uma bela e profunda contribuição, Bernardete. Obrigado, amiga; boa semana!
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