Cidade de Teerã, Capital da República Islâmica do Irã.
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15/05/2010 15h41 - Atualizado em 15/05/2010 15h48
Cartaz de Lula ao lado de Ahmadinejad é visto no Irã
BRASIL e IRÃ
LULA e AHMADINEJAD
Um cartaz com a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad é visto no Irã, neste sábado(15). (Foto: WILSON PEDROSA/AGÊNCIA ESTADO/AE)
'A diplomacia venceu', diz Lula sobre acordo nuclear com o Irã. Isso é bom demais, não é mesmo?
Presidente disse que com o diálogo é possível construir a paz.
Chanceler brasileiro não acredita que há razões para novas sanções ao Irã.
"Há um milhão de razões para a gente ter argumentos para construir a PAZ e nenhum argumento para a gente construir a GUERRA”, concluiu Lula.
Presidente Lula conversa com Mahmoud Ahmadinejad durante reunião na capital iraniana, Teerã
Foto: Reuters
Os presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, concordaram neste domingo com a necessidade de uma nova ordem econômica e comercial no mundo que conceda mais peso aos países emergentes. No entanto, nem nos discursos e nem na nota oficial sobre o encontro os dois presidentes falaram a respeito da negociação sobre questões nucleares.
Diferentes na forma, mas próximos no conteúdo, os dois lídeires fizeram um discurso parecido no encerramento de IV Fórum Comercial Irã-Brasil, realizado neste domingo, no centro de convenções da televisão nacional iraniana (Irib), no norte de Teerã.
O Brasil e o Irã assinaram oito memorandos de entendimento, relativos à cooperação comercial, a abertura de linhas diretas de crédito, a troca de tecnologia e a colaboração no terreno energético e, em particular, no setor petroleiro. Mais comedido, Lula ressaltou que a relação entre os dois países "é muito importante em um momento em que o mundo se encontra em transformação".
"Uma nova geografia econômica e comercial que necessita de um sistema multilateral", baseado nas relações bilaterais e na diversificação, em que o eixo sul-sul deve desempenhar um papel chave, acrescentou. Lula ressaltou que a abertura de um linha direta de crédito de 1 bilhão de euros a cinco anos entre os países foi o elemento central das negociações, que considerou proveitosas.
O objetivo é facilitar o acesso ao financiamento de empresas mútuas que queiram investir no Irã e no Brasil e conseguir assim intermediários de outros órgãos internacionais, explicou. "O Irã é um dos grandes mercados do mundo e nos últimos cinco anos se transformou em um dos principais mercados do Brasil no Oriente Médio. A crise não o afetou. Pelo contrário, podemos avançar muito mais", afirmou.
Ahmadinejad, por sua vez, chamou o sistema econômico atual de "inseguro" e também insistiu na "necessidade de substituí-lo por uma nova ordem econômica e monetária sustentada na justiça". "O sistema capitalista chegou ao seu fim, não só na cena econômica, mas também nos campos da política e da segurança mundial, e agora enfrenta sérios problemas", ressaltou.
Neste sentido, voltou a denunciar que "as políticas, as divisas e as infraestruturas dominantes perseguem o lucro de uma minoria de nações e transmitem os problemas dos países capitalistas aos países emergentes como o Irã e o Brasil". Como solução, o líder iraniano propôs "a ampliação das relações bilaterais, que evitará estes problemas" e a necessidade de fixar "novos sistemas econômicos, novos pactos bancários e monetários fora do sistema dominante".
Ahmadinejad assegurou que o "Irã e o Brasil estão se transformando nos pólos importantes do mundo" e ressaltou que com a ampliação das relações bilaterais "podem ter um papel determinante". "Devemos tirar os obstáculos alfandegários e melhorar nossos sistemas de transporte para potencializar e melhorar o comércio bilateral", concluiu.
O balança comercial entre o Irã e o Brasil é cifrada em torno dos US$ 1,5 bilhão, com trocas propícias com o Brasil que exporta, sobretudo, alimentos e maquinário.
Questão nuclear
Começou neste domingo em Teerã a negociação vista como a "última chance" do Irã para resolver com o Ocidente o impasse sobre seu programa nuclear. O presidente Lula tenta convencer o Irã a reconsiderar a proposta de acordo para a troca de combustível nuclear como forma de resolver a disputa.
Autoridades russas e ocidentais afirmaram que a visita de Lula era provavelmente a última chance de se evitar novas sanções das Nações Unidas contra o Irã, depois da recusa do país de paralisar as suas atividades nucleares.
A consagração de Lula
Está assinado, selado, carimbado, o documento que significa para o Brasil a maior conquista diplomática da sua história. Lula enfrentou os poderosos e sinistros lobbies armamentistas, que tinham como porta-voz Hillary Clinton, secretária de Estado do governo Obama, e conseguiu realizar uma incrível façanha: persuadiu Mahmoud Ahmadinejad, o desconfiado presidente iraniano, a assinar o acordo nuclear que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) havia exigido. O urânio do Irã será processado na Turquia. E o Brasil ocupa, novamente, as manchetes de todos os jornais do planeta com uma boa notícia. Lula é o novo campeão da paz.
Não foi fácil. A exigência da AIEA, de que o Irã enriquecesse seu urânio em outro país, sempre me pareceu excessivamente dura e humilhante. Por que o Irã não pode enriquecer o urânio em seu próprio país? Mas o Irã, desde o início, mostrou-se aberto à idéia. Os Estados Unidos, todavia, iniciaram uma ofensiva diplomática estúpida, intolerante, preconceituosa, como se não desejassem uma solução pacífica. Obama, que tem uma política externa lamentável, chegou a ameaçar militarmente o Irã, durante evento recente sobre armas nucleares.
Durante todo o recente périplo de Lula no exterior, autoridades e imprensa americanas procuraram desacreditar o esforço brasileiro para encontrar uma alternativa às sanções, que trazem sofrimento ao povo iraniano, e fecham ainda mais o regime, tornando-o mais rancoroso e, portanto, mais aberto a idéias de vingança, terrorismo e guerra.
Lula e os diplomatas brasileiros enxergaram, na escalada de agressões verbais contra o Irã, uma atmosfera de intolerância similar ao que ocorreu no Iraque. Essa história de que seria “improvável” um ataque americano ao país é balela, pois dizia-se a mesma coisa em 2001. A tática é a mesma há milhares de anos. Procure-se um pretexto. Os EUA agem como se quisessem exasperar as autoridades iranianas até o ponto delas sucumbirem emocionalmente e fazerem alguma besteira.
Com esse acordo, Lula venceu uma queda de braço com os falcões da guerra, cujas articulações para desestabilizar o Irã começaram já no dia da vitória de Ahmadinejad. Com o apoio de inocentes úteis de todo mundo, deflagrou-se uma campanha internacional para difamar as eleições do Irã. Sem nenhuma prova concreta, a mídia ocidental espalhou aos quatro cantos a versão de que as eleições foram fraudadas. Aconteceu a mesma coisa na Venezuela, mas sem esse apoio da mídia internacional. Durante meses, os opositores de Hugo Chávez bradaram que houve fraude e exigiram que houvesse um plebiscito que comprovaria, cabalmente, suas teorias. Pois bem, Chávez aceitou o desafio, houve o plebiscito e Chávez ganhou de lavada. No caso do Irã, foram testadas à farta técnicas de comunicação digital, além das velhas táticas de ataques culturais. Nesse final de semana, a capa da Ilustrada, caderno cultural da Folha, trouxe reportagem sobre quadrinhos de um iraniano que critica ferozmente a brutalidade do regime dos aiatolás. Achei ótima a qualidade dos desenhos, mas veio-me a mente como seria mais interessante que a Ilustrada publicasse quadrinhos sobre a política de extermínio das polícias brasileiras.
Senti um frio na espinha quando vi o ultimato de uma autoridade americana, em declaração à Reuters, poucos dias atrás. Em virtude da iniciativa brasileira de dialogar com o Irã, ela afirmou que esta era a “última chance” do país. Pareceu-me uma declaração de guerra. Nada disso, naturalmente, ajudou Lula, pois só tornou o clima mais pesado e as negociações mais tensas. As agressões verbais dos americanos enfurecem os persas, que já perderam milhões de vidas para golpes de Estado e guerras químicas patrocinados pelos EUA. O Irã nunca atacou os Estados Unidos, mas os EUA já atacaram o Irã diversas vezes. Ahmadinejad tem muito mais razões para suspeitar das intenções americanas do que o contrário. Quanto ao Bin Laden, não se esqueçam que se trata de um saudita que começou a vida recebendo dinheiro da CIA para lutar contra os russos no Afeganistão. O Irã, ou Irão como dizem os portugueses, não tem nada a ver com o terrorismo da Al Qaeda.
No Fantástico, a reportagem sobre o Irã abriu com imagem do protesto que aquela ong de dondocas fez, claro, em Ipanema, conclamando (idiotamente) Lula a dar um pito num país soberano sobre seus direitos humanos. E isso num momento delicadíssimo em que Lula articulava um acordo político de grande importância para a paz mundial.
Pedir isso à Lula é a mesma coisa que Ahmadinejad vir ao Brasil e protestar contra a tortura e a morte de motoboys pela polícia de São Paulo. O Brasil tem que cuidar de seus próprios problemas, antes de querer dar lição de moral aos outros. Essa ong de Ipanema seria mais útil à sociedade se gastasse seu dinheiro com coisa melhor do que com cruzinhas fincadas na areia. Podiam construir abrigos para moradores de rua, servir sopa aos pobres, cuidar de crianças viciadas em crack, só para dar alguns exemplos.
A determinação de Lula causou desconforto nos reacionários do mundo inteiro. Por alguma razão misteriosa para mim, eles odeiam o Irã. Eu também não gosto do Irã, mas eles, eles odeiam visceralmente. Engajam-se em guerrinhas virtuais. Como se a Arábia Saudita, o Paquistão, a China fossem muito melhores do que o Irã em termos de direitos humanos. Em matéria de democracia, aliás, o Irã está muito acima da média do oriente próximo. Tem eleição, ao menos.
Daí que uma parente minha enviou-me artigo publicado num jornal francês que fala mal do Lula. Coisa bobinha, mas que parece muito com esse texto publicado na edição atual da Veja. Eles forçam a barra dizendo que Lula é amigo de “tiranos”. Em primeiro lugar, Lula já explicou que se relaciona como chefe de Estado, e não como pessoa. Se ele usa ferramentas emotivas para promover o diálogo, esse é seu grande trunfo, não seu defeito. Ele se comunica afetivamente. Abraça as pessoas, e assim descontrai o ambiente, cativa o interlocutor. Essa é sua maior qualidade. Uma qualidade genuinamente brasileira, diga-se de passagem. O rigor britânico, o pragmatismo americano, a dureza germânica, a ironia francesa, agoram terão a companhia da ternura brasileira no panteão das grandes virtudes diplomáticas da modernidade.
Os vocábulos “déspota” e “tirano” tem sido usados com enorme flexibilidade conceitual. Ahmadinejad não pode ser tirano porque tem de obedecer aos aiatolás, ao Alcorão e ao voto iraniano. Chávez não é tirano porque foi eleito, ponto. E Fidel Castro, esse sim, pode ser considerado um tirano, mas é também o revolucionário mais admirado no mundo por sua luta heróica em defesa do povo cubano. Fidel derrubou um ditador sanguinário, e daí estabeleceu um regime não-democrático porque viu que todas as democracias ao redor estavam sendo destruídas por oligarquias patrocinadas ou não pelos EUA.
No Brasil, houve torcida contra por parte da tucanada, para variar. E foi muito bom para a gente se lembrar, mais uma vez, como a diplomacia do PSDB foi medíocre e será medíocre, no caso da vitória de Serra. Em entrevista recente, Serra afirmou que não iria ao Irã e não se meteria nesse imbróglio. O que acho muito bom, porque Serra não tem a mínima estatura moral ou intelectual para ser um chefe de Estado deste novo Brasil, e se fosse ao Irã poderia produzir a III Guerra. Em artigo publicado na Folha, intitulado Visita Indesejável, Serra ofende violentamente a honra do Irã e de sua classe política. Serra afirma, dentre outras barbaridades, que o “presidente Ahmadinejad, do Irã, acaba de ser reconduzido ao poder por eleições notoriamente fraudulentas”. Essa afirmação é totalmente irresponsável por parte de quem pretende tornar-se chefe de Estado. A vitória eleitoral de Ahmadinejad foi confirmada pelas autoridades judiciárias do país. Se houve fraude, ela veio da Justiça iraniana. Serra atacou, portanto, o Estado iraniano, não apenas Ahmadinejad. Eu já escrevi vários posts sobre o tema. Veja aqui, comentando o artigo de Serra. E aqui, falando das diatribes da mídia nacional contra os persas.
Alguém já viu o filme de George Clooney chamado Syriana? Neste filme, Clooney interpreta um agente da CIA que trabalha no oriente médio. São mostrados representantes da oposição iraniana recebendo dinheiro e orientação política do governo americano. É isso. Todo mundo sabe que a direita americana tenta desestabilizar o regime iraniano, considerado “independente” demais. Depois de derrubarem Saddam Hussem e avançarem sobre o petróleo iraquiano, que hoje é canalizado ordeiramente para refinarias no Texas, eles querem fazer o mesmo com o Irã, que tem jazidas ainda maiores.
E Serra iria ajudar esses neocons desprezíveis, ao arrepio dos interesses econômicos brasileiros e, sobretudo, em prejuízo da paz mundial? O que se passa na cabeça dessa gente? Será que não vêem que o Brasil não tem nada que ficar dando lição de moral em outros países? Questão de direitos humanos devem ser tratadas junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Apenas ela tem moral para advertir verbalmente ou aplicar sanções em países que os violam. Se Lula protestasse contra os direitos humanos no Irã, ou se encontrasse com líderes da oposição de lá, teria que, para não ser injustamente seletivo, fazer a mesma coisa em todos os outros países que visitasse.
Imaginem a cena ridícula que seria o presidente, em cada país estrangeiro em que se encontrasse, emitisse declarações contra o regime e se reunisse com os inimigos deste? Os americanos fazem isso? Não. Os presidentes americanos visitam a China desde a época em que o Kissinger tirava meleca, e quando o fazem, não piam, não abrem a boca para falar um ai contra o regime chinês. A mídia ocidental parece ter compaixão preferencial pelos presos cubanos, porque nunca vi se manifestarem contra as masmorras da Arábia Saudita, da Indonésia ou da Costa do Marfim.
Voltando ao Globo, dentre os entrevistados escolhidos a dedo para falar mal de Lula e da política externa brasileira, está o editor da Newsweek. Olha o que o gênio disse:
Globo: O presidente Lula desembarcou em Teerã para tentar um acordo com Ahmadinejad.O Brasil pode assumir um papel sério na questão nuclear iraniana ou no Oriente Médio?
ZAKARIA: (risos) A resposta curta para sua pergunta é… não! (risos)O Brasil tem um orgulho compreensível por todas as suas conquistas nas duas últimas décadas. Tem sido interessante acompanhar. O Brasil pode ter um papel muito construtivo na América Latina. Pode ser um porta-voz da democracia e dos direitos humanos na região, mas acho que a ideia de o Brasil ser um jogador sério no Oriente Médio ou uma força global nesse sentido é altamente improvável.Se nem mesmo a União Europeia consegue, é difícil ver como o Brasil poderia conseguir.
Já o Celso Lafer, que gosta mesmo é de trabalhar descalço, afirmou o seguinte sobre a visita de Lula ao Irã:
É um pouco da diplomacia do gesto, e não dos resultados, que a meu ver são pouco prováveis de serem bem sucedidos. Acho que o Brasil perde com essa posição em relação ao Irã.
A política externa do Brasil é justamente o contrário do que Lafer disse, porque tem se notabilizado como infinitamente mais astuta do ponto de vista comercial e econômico do que a praticada na gestão anterior. O Brasil conseguiu aumentar suas exportações para o mundo inteiro graças a aproximação política promovida nos últimos anos pela diplomacia. Diplomacia de “resultados” para Lafer era patrocinar coquetéis milionários em Londres na ridícula tentativa de criar laços com membros da família real britânica.
Demétrio Magnoli também dá as caras, dizendo que o Brasil deveria apoiar nova rodada de sanções contra o Irã. Ou seja, Magnoli advoga que o Brasil recolha-se à sua insignificância e deixe de agir como país independente.
O ex-chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia, tucano sectário e invejoso, disse que a ” possibilidade de que o Irã mude de rumo, altere profundamente sua política por causa de uma conversa com o presidente do Brasil é uma possibilidade remota.”
Senti falta do Marco Antônio Villa. Por que não o entrevistaram também?
Todos eles quebraram a cara. O Irã assinou o documento e o mundo amanheceu hoje um pouco mais tranquilo.
*
Vejamos agora a repercussão do feito de Lula na imprensa desta segunda-feira.
Silêncio… Quer dizer, dão a notícia, mas sem nenhum comentário editorial.
No Globo, Noblat faz um artigo sobre o prefeito de Juazeiro do Norte…Na Folha, nada…No Estadão nada…
Engraçado, nem parece que o Brasil acaba de realizar o maior feito diplomático de sua história…
*
Com esta vitória, Lula encerra seu mandato com um prestígio que nenhum presidente do mundo em desenvolvimento jamais possuiu.
E ficará ainda mais fácil eleger a Dilma.
comentário de RST em http://www.esmaelmorais.com.br/?p=25794
domingo, 16 de maio de 2010
IRÃ - Ahmadinejad diz "obrigado América".
Do blog DO VELHO COMUNISTA.
Immanuel Wallerstein
As relações entre o Irã e os Estados Unidos têm sido turbulentas durante quase 60 anos. Antes da Segunda Guerra Mundial, o xá do Irã, Reza Xá Pahlevi, tentou manobrar entre as exigências e as pressões externas da Grã Bretanha, da União Soviética e Alemanha. Quando explodiu a guerra, ele declarou a neutralidade do Irã. Isto levou à invasão aliada soviético-britânica em 1941. Os aliados forçaram o xá a abdicar em favor de seu filho.
As forças soviéticas permaneceram no norte do Irã e, em 1946, exigiram uma concessão petrolífera aí. Os britânicos consideravam que o Irã era parte de sua esfera de influência e controlavam a muito rentável Companhia Anglo-Iraniana de Petróleo (AIOC). A guerra fria havia começado e os britânicos se negaram a admitir a pretensão soviética. As forças soviéticas se retiraram do Irã, mais ou menos como parte do acordo firmado em Yalta no qual haveria uma divisão de esferas de influência.
No entanto, em 1951, Mohammed Mossadegh assumiu o cargo de primeiro ministro, como chefe do Partido Nacionalista, e nacionalizou a AIOC, uma jogada à qual se opôs o xá, Mohammed Reza Pahlevi. Na luta entre ambos, Mossadegh obteve o suficiente respaldo popular para marginar o xá e forçá-lo a um exílio de fato.
Nesse momento, os britânicos, com efeito, estavam cedendo seu papel aos Estados Unidos em todo o Oriente Médio. Foi então que a CIA orquestrou um golpe de Estado no Irã em 16 de agosto de 1953 e fez arranjos para que o xá regressasse a Teerã e assumisse de novo o controle político pleno. A nacionalização do petróleo foi cancelada e se reinstalou a empresa britânica no Irã.
O xá do Irã se tornou um firme aliado dos Estados Unidos e suprimiu toda a oposição política. Nesse momento, os Estados Unidos não se opunham às ambições nucleares do xá, e tampouco Israel o fazia. O regime do xá se tornou mais e mais opressivo e isto resultou eventualmente em uma revolução nacionalista em 1979 encabeçada pelo aiatolá Khomeini. Para os revolucionários, um dos principais agravos era a subordinação dos interesses nacionais do Irã às políticas estadunidenses, como ocorreu após o golpe orquestrado pela CIA em 1953.
O xá caiu e logo, em novembro de 1979, foi invadida a embaixada estadunidense. Os diplomatas que se achavam em seu interior foram tomados como reféns pelo regime iraniano. Estiveram como reféns 444 dias. Desde então, têm sido hostis as relações entre ambos os países. Em 1980, o governo iraquiano de Saddam Hussein atacou o Irã, com o respaldo material do governo estadunidense.
A guerra foi longa e sangrenta e terminou oito anos depois mais ou menos empatada. Pouco depois o Iraque invadiu o Kuwait, em parte para aliviar os custos da guerra. O Iraque esperava que os Estados Unidos entendessem estas ações, mas em lugar disso se viu mergulhado na primeira Guerra do Golfo.
Os Estados Unidos se encontraram ao mesmo tempo enfrentado o Iraque e o Irã. Quando Al Qaeda lançou seu ataque em 11 de setembro, o governo de Bush acusou o Iraque e o Irã de estar em conluio com Al Qaeda ainda que esta fosse hostil a ambos os regimes. Os Estados Unidos invadiu o Afeganistão em 2001 e o Iraque em 2003 com a suposta esperança de conseguir regimes amigáveis em ambos os países que lhe deram respaldo em sua luta continuada com o Irã, que havia empreendido sérios esforços para obter armas nucleares.
Isto posto, onde estamos hoje? Os iraquianos realizaram eleições e estão, no momento, negociando o futuro governo. Quando os vários partidos de forte base xiitas quiseram levar a cabo diálogos de negociação, foram a Teerã. Uma das razões aludidas foi que não queriam que os Estados Unidos os ouvissem com seus dispositivos de escuta. Parece que não lhes preocupava que os ouvissem os dispositivos de escuta iranianos. O maior partido, que tem um forte respaldo nas áreas sunitas, anunciou recentemente que também visitará o Irã. E o governo iraniano obrigou aos partidos xiitas a que incluam políticos sunitas em qualquer governo que se forme.
Não se trata de que o Irã esteja controlando a política iraquiana. Longe está disso, mas após uma prolongada ocupação estadunidense ocorre que o Irã tem mais influência no Iraque que os Estados Unidos. O Irã está especialmente agradecido aos Estados Unidos por haver eliminado o inimigo mais temido que tinha no Iraque: Saddam Hussein.
No Afeganistão, os Estados Unidos colocou no poder Hamid Karzai. Do ponto de vista estadunidense, ele era a pessoa ideal, de fato o único que tinha a possibilidade de resistir com êxito aos talibãs e manter unido o Afeganistão. Ele mesmo procede da etnia pashtún e é alguém desejoso de fazer acordos com os vários senhores da guerra que dominam as zonas onde não há pashtunes.
Depois das recentes eleições, houve acusações de que Karzai havia manipulado os resultados e que era muito tolerante com a corrupção e o cultivo de drogas. Os Estados Unidos lhe pôs forte pressão para que modificasse algumas de suas políticas. Quê foi o que ele fez? Convidou Ahmadinejad a visitar Kabul, disse que ele mesmo poderia unir-se aos talibãs, e abertamente denunciou os militares estadunidenses por suas horríveis matanças de civis.
Devido a que os Estados Unidos não têm ninguém que possa substituí-lo, teve que reconsiderar e tentar restabelecer relações com Karzai. O general McChrystal, comandante das forças estadunidenses aí, investiu muito para conseguir pelo menos uma vitória parcial sobre os talibãs. Depois de nove anos de envolvimento estadunidense (e da OTAN) no Afeganistão, seu aliado mais seguro joga a carta iraniana contra Washington, e não parece que haja muito que possa fazer os Estados Unidos a respeito.
Entretanto, Ahmadinejad enfrenta forte oposição no interior do país e tem estado trabalhando duro para suprimi-la. E os Estados Unidos estão em uma campanha importante para alcançar sanções contra o Irã devido a sua negativa a abandonar o desenvolvimento de reatores nucleares. Quais são os resultados da campanha de sanções (e mais) encabeçada pelos Estados Unidos e respaldada com vociferação por parte de Israel?
No Irã, fortaleceu-se muito a mão política de Ahmadinejad no interior, e lhe permite assumir a posição de defensor da soberania iraniana. E apesar de toda a pressão que tem posto os Estados Unidos, parece duvidoso que a Rússia e a China (em especial a China) respaldem sanções sérias (isto é, que não sejam só nominais). Entretanto, os israelitas expressam, corretamente, que o tempo está do lado do Irã em sua tentativa de converter-se uma potência nuclear.
Trinta anos de política exterior estadunidense contra o Irã tem mostrado ser contraproducente. (Ou talvez devamos falar de quase 60 anos.) O Irã é mais forte hoje que nunca, em grande parte, devido às políticas estadunidenses. Se vocês fossem Ahmadinejad, não diriam “obrigado América?”
Tradução: Ramón Vera Herrera/Rosalvo Maciel
Original em La Jornada
Postado por BLOG DE UM SEM-MÍDIA
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