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Sérgio Matsuura
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Em vez de tanques e armas, bits e computadores. É dessa forma que as guerras estão sendo travadas no mundo cibernético. No dia 23 de abril, o grupo de hackers Exército Eletrônico da Síria (SEA, na sigla em inglês) ganhou destaque na imprensa internacional por invadir a conta no Twitter da agência de notícias Associated Press. Com uma mensagem falsa sobre ataques à bomba na Casa Branca, US$ 136 bilhões desapareceram de Wall Street em apenas dois minutos. Na semana passada, relatório encaminhado ao Pentágono pela Comissão de Ciência da Defesa dos EUA aponta que hackers chineses tiveram acesso a projetos de mais de 20 armamentos, incluindo o famoso sistema de mísseis Patriot e o helicóptero Black Hawk.

- É a ciberguerra. O uso de um conjunto de armas tecnológicas, associadas à informática ou redes, utilizadas para causar prejuízos em um alvo qualquer – explica o professor do Departamento de Informática da PUC-Rio Anderson Oliveira da Silva.
Também na semana passada, uma comissão de defesa da propriedade intelectual enviou ao Congresso relatório apontando que as perdas de empresas americanas com ataques cibernéticos chega a US$ 300 bilhões por ano, comparável ao volume das exportações americanas para os países asiáticos. Na última sexta-feira, o chefe do Pentágono, Chuck Hagel, afirmou que os EUA vão buscar entendimento sobre normas de conduta com o governo chinês para enfrentar o aumento de ataques. Segundo Hagel, é difícil demonstrar que as invasões cibernéticas tenham partido de um “inimigo específico”, mas é possível rastrear o ponto de partida das ações.
“Eu sou um combatente”, diz hacker
Em documento oficial divulgado no último mês, o Pentágono confirmou que batalhas virtuais estão em curso no ciberespaço. O Departamento de Defesa acusa explicitamente o governo chinês de estar por trás de ataques a redes americanas para obtenção de informações confidenciais. Segundo o relatório, “diversos sistemas de computadores ao redor do mundo, incluindo os de propriedade do governo dos EUA, continuaram a ser alvo de invasões, algumas das quais parecem ser atribuídas diretamente ao governo chinês e militares. Essas intrusões se concentraram em coletar informação”. Pequim nega envolvimento nas ações.
Por definição, as guerras cibernéticas são travadas entre Estados. Por esse motivo, o diretor executivo de pesquisas da F-Secure, Mikko Hyppönen, não considera as ações do Exército Eletrônico da Síria ou de hackers autônomos chineses como uma ciberguerra.
- Não me lembro de alguém ter declarado guerra – explica.
Porém, não é essa a opinião de quem está por trás das ações. Em entrevista por e-mail, o hacker conhecido como Th3 Pro, que se proclama líder do Departamento de Operações Especiais do SEA, diz se sentir no campo de batalha.
- Eu sou um combatente. Todos os sírios que se alistam e defendem o seu país na internet são soldados no ciberespaço – afirma.
O jovem de apenas 18 anos atua no grupo desde o início dos conflitos internos na Síria, em 2011. Segundo ele, centenas de internautas sírios se uniram ao SEA “para atacar inimigos na internet”. Os principais alvos são agências de notícias que, na opinião do hacker, “publicam e fabricam informações contra o país”. Este ano, o Twitter começou a sofrer ataques constantes por ter fechado todas as contas do grupo.
O ataque à Associated Press no Twitter é considerado a maior ousadia do SEA, mas as ações são diversificadas. De acordo com Th3 Pro, o grupo já atacou sistemas de e-mail no Qatar, na Turquia e na Arábia Saudita, e documentos secretos coletados foram enviados ao governo do presidente Bashar al-Assad.
Outras empresas de mídia do ocidente também tiveram sites ou contas em redes sociais comprometidos. O jornal britânico “Financial Times” foi o último grande alvo, mas outros veículos como Reuters, BBC, Al Jazeera, The Onion, “Telegraph” e “Independent” já foram vítimas do grupo. O Human Rights Watch e a universidade de Harvard também foram hackeados. Pelo volume e amplitude dos ataques, existe a suspeita de que o governo sírio esteja dando suporte às ações, mas a acusação é negada.
- O governo não nos apoia. Nós temos nossos laptops, acesso à internet e é nossa obrigação defender o país – afirma o jovem hacker.
Para o professor Anderson Oliveira, quando grupos, ligados a governos ou não, começam a fazer ataques contra outros países, pode-se considerar que eles estão em uma ciberguerra. Apesar de as ações do SEA estarem concentradas na divulgação de propaganda, os riscos virtuais devem ser tratados com seriedade pelos governos.
O caso mais famoso de ciberataque é o Stuxnet, vírus descoberto em 2010 desenvolvido para se espalhar livremente, mas atacar apenas um sistema específico, utilizado pelo programa nuclear iraniano. Pela sofisticação do software, especialistas afirmam que ele só pode ter sido criado com o auxílio de governos, sendo os EUA e Israel os principais suspeitos.
- É o que se especula, mas não é possível confirmar. Essa é uma das características da ciberguerra: ela é silenciosa. Sem o custo do envio de tropas, as armas cibernéticas podem gerar grandes prejuízos a ponto de prejudicar populações. Você pode criar um apagão apenas com um código malicioso, por exemplo – afirma Oliveira.
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Exército monta centro de defesa
Por esse motivo, governos de todo o mundo montam sistemas de defesa virtual, inclusive o Brasil. Desde 2008, o Ministério da Defesa prioriza o desenvolvimento do setor e, no ano passado, o Exército criou o Centro de Defesa Cibernética (CDCiber), para coordenar e integrar as ações das três forças militares no ciberespaço. Entre as ações em curso, destaque para o desenvolvimento de um antivírus nacional, que já possui 14 mil licenças, e o investimento de R$ 5 milhões na construção de um simulador de guerra cibernética.
A segurança durante os grandes eventos que serão realizados no país é uma das preocupações do CDCiber. Para a Copa das Confederações, que acontece em junho, serão montados Centros de Monitoramento Cibernético em cada uma das seis cidades que abrigarão a competição.
- Nós estamos adquirindo todas as capacidades para oferecer aos brasileiros e visitantes a proteção devida. Há mais de um ano estamos nos preparando para a Copa das Confederações – afirma o coronel Luiz Gonçalves, sub-chefe do CDCiber.
O CDCiber também atua nas missões de paz em que as forças brasileiras estão envolvidas, como no Haiti. Em operações de combate reais, cabe ao centro a proteção dos sistemas de comunicação. Segundo Gonçalves, entre as atribuições, estão a montagem dos sistemas de defesa, exploração de possíveis ameaças e a chamada defesa ativa.
- A política externa brasileira é defensiva, por isso nossa estrutura é de defesa, não de ataque. A gente não pode se capacitar em técnicas voltadas para atacar outros países, mas nós temos a competência. Para testar a defesa do sistema, temos que simular ataques – explica o coronel.
FONTE: O Globo via Resenha do Exército